NO DANIEL, NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS
(Daniel: localidade do interior do município de Cariré-CE)
Era 10 de abril de 2012, mais um dia normal na rotina de trabalho. Reuniões e discussões fazem parte da cotidianidade de quem compõe a Administração Pública Municipal.
Tudo parecia tranquilo e os compromissos anteriormente marcados aconteciam conforme a programação. Até aí tudo muito bem, mas era apenas uma questão de tempo.
Familiarmente estávamos apreensivos. Mal havíamos nos recuperado do susto dado os problemas de saúde do Senhor José Martins Cardoso, o vovô Saldanha, eis que a Dona Margarida Maria Gonçalves Martins, a vovó Margarida, como todos nós familiares a tratávamos, passa então a ser o centro de nossas preocupações em uma perda repentina de saúde.
A sucessão de acontecimentos revelou a lógica de ser de uma família. Todos os filhos fizeram do seu amor a força maior em prol da vida de vovó Margarida.
Em determinado momento desse processo acelerado minha mãe trouxe vovó para nossa casa. Ali, naqueles instantes em que estivemos juntos, percebi a magnitude de sua força. Mesmo calada parecia querer falar e nos dizer algo mais além da possibilidade visualizada. Isso se deu em cada dia até a véspera de sua partida definitiva para Fortaleza. Neste dia eu a visitei de uma forma diferente diante das notícias nada boas sobre o seu estado de saúde. Aproveitei então para dar-lhe um abraço forte, beijar sua testa como sempre fazia. Afaguei seus cabelos e brinquei carinhosamente chamando-a de “minha velhinha”, momento em que olhou-me em silêncio... os olhos falaram do que vinha da alma... o olhar triste era o canto da despedida... ela sabia disso... e eu tive certeza naquele momento. Sua força suplantou a minha e tratei de me retirar consciente de que o pior viria.
Vovó foi para Fortaleza crente de que nada lhe faltou ou faltaria, pois o que ela mais cultivou foi amor, especialmente pela família. Então era hora de colher os frutos de toda uma vida. E foi o que aconteceu. Cada filho, cada parente ou amigo, seja presente ou em orações, não poupou esforços rogando a Deus pela saúde de minha vozinha. Somos sabedores disso e gratos a todos pela demonstração de carinho e respeito.
Saibam amigos, a vida não se encerra quando do ultimo suspiro e o fechar definitivo de nossos olhos. Infelizmente vovó nos deixou aqui na Terra. Deus entendeu que sua obra terrena estava concluída e a chamou para o plano superior, celestial, lugar privilegiado a quem exerceu plenamente sua fé. Deste estará minha vozinha olhando e cuidado carinhosamente de cada um de nós...
No princípio a dor é natural até à compreensão da vontade divina, pois Deus é maravilhoso e não desampara seus filhos. Com o tempo a lágrima deixa de rolar e a saudade se transforma na sensação de vida da vozinha em nossos corações, pois somos um pedaço dela, não apenas carne, mas todos nossos valores morais e espirituais são reflexos de uma história linda construída com simplicidade, humildade e fé.
Para encerrar essas parcas linhas forjadas em lágrimas de saudade, me socorro da sabedoria do grande poeta Gonçalves Dias que, em trecho de sua “Canção do Exílio”, dizia:
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
No Daniel, nosso céu tem mais estrelas, pois lá estão vovô Rosa (pai Rosa), vovó Isaura (mãe Isaura), tio Antenor, Eligiane (Liginha), tia Luzia, padrinho Gonzaga, tio Dica e agora a vovó Margarida. Cada uma brilhando iluminando nossas flores, nossas vidas e nossos amores.
Somos muito gratos aos parentes e amigos que, com o seu carinho, fizeram de nossa tristeza um momento de reflexão e conforto.
Obrigado a todos e que Deus os proteja em cada dia de suas vidas.
Groaíras-CE, 17 de abril de 2012.
Augusto Martins Melo