ELA nasceu aos doze dias do mês de
dezembro do ano da graça de hum mil novecentos e quarenta e três (12/12/1943).
Sua vida penosa não foi empecilho para atravessar tormentas e tempestades em
alto mar, apesar de viver no sertão agreste do interior do Ceará.
Hoje, ao arrumar os cabelos brancos
diante do altar, prepara-se para comemorar o seu octogésimo aniversário (80
anos). Não foi nada fácil chegar até aqui. Tal qual um avião em turbulência,
houve momentos de bonança. O barco não naufragou, o aeroplano plaina tranquilo
diante da paciência de Jó e ELA continua firme seguindo os preceitos de sua
tataravó.
Acostumou-se a rezar o Rosário desde a
mais tenra idade e os três terços diários nunca foram dedilhados pela metade.
Nesses oitenta anos ELA participou ativamente de todos os eventos da comunidade
e das comemorações em honra à Nossa Senhora do Rosário (27 de setembro a 07 de
outubro), seja nos braços de sua mãe, seja como Apóstola do Santíssimo
Sacrário.
E assim, ELA desfila altiva rumo à
Matriz com as mesmas pegadas de outrora, permanece suave como a aurora e feliz
como as andorinhas que sobrevoam o sino secular e encanta a todos com o badalar
de um feliz destino.
ELA ainda consegue escutar o arrastar
das vassouras das irmãs Craveiro, sente o aroma do café do Senhor Luís Simão e
de Dona Aurora debaixo dos tamarineiros, recorda cada prenda do leilão e aspira
o cheiro divino da cola da sapataria do mestre Zé Sabino.
As primeiras letras do mestre Cordeiro
ressoam como luz e se misturam às ladainhas cantadas e às fitas encarnadas
sobre os ombros da Irmandade do Coração de Jesus.
Os filhos, netos e bisnetos estão
adultos e professam os mesmos ensinamentos, com algumas variações, mas sempre
atentos aos dogmas cristãos.
Ao olhar para trás, revive gloriosa a
sua ascendência desde o século XVIII (pelos idos de 1712). Era uma capelinha em
efervescência, Riacho dos Guimarães, tentando fincar raízes numa terra remota e
tal como a Virgem da Assunção ausculta atenta o silêncio possante das mães bem
no íntimo do coração.
ELA sintetiza a todos nós, atende pelos
nomes de Marias, Rosários, Anas, Joanas, Josefas, Joaquinas, mulheres
empoderadas e sem voz. Para esta matrona não importa a variação nominal e ELA
nos socorre por inteiro, imparcial.
Sob a batuta do Padre Jocélio ainda
brota na memória afetiva a assinatura de sua Certidão de Nascimento pelo bispo
Dom José Tupinambá da Frota.
A Cúria Diocesana conclama solene: -
Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Groaíras?
ELA responde lá do alto do coreto,
empertigada e contente, octogenária, cabelos nevados ao vento:
- PRESENTE!!!...
Texto: ERINEU MELO
P.S: Texto que foi lido na igreja de Nossa Senhora do Rosário de Groaíras-CE, no dia 12 de dezembro de 2023, por ocasião da missa festiva do aniversário dos 80 anos da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.