
O Pe. Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque Melo, o Pe. Mororó, nasceu em 24 de julho de 1778, em Sobral, onde moravam seus pais, o alferes Félix José de Souza, "natural do Rio Grande, e Dona Theodózia Maria de Jesus, natural da Freguesia de Nossa Senhora da Cnoceição de sobral". (MONTENEGRO, 2004, p. 7). A obra de João Brígido (1969, p. 367-368, apud MONTENEGRO, 2004,P.7) traz que o ilustre sacerdote: "Pertencia, pois, a uma das famílias de distinção daqueles tempos. Seu bisavô tinha sido um patriarca naqueles sertões então quase desertos.
Lourenço Guimarães foi seu trisavô. Pelo lado de seu pai, entroncava na família Almeida Prado, da qual brotou o imortal Padre Miguel Joaquim de Almeida e Castro, juridicamente assassinado na Bahia pelo Conde D´Arcos, e além de outros barões dos tempos modernos, o Senador Tomás Pompeu, nome perpetuado na história do Ceará." (grifo nosso)
A referência a obra de Montenegro quanto a decendência de Mororó é um artifício para demonstrar a importância do personagem para a história do Ceará, merecendo atenção de grandes escritores e estudiosos da história de nosso Estado. Infelizmente o mesmo interesse não existe em Groaíras. O desinteresse é geral e me incluo entre os culpados pelo mesmo. Minha preocupação surgiu quando da gravação do Programa Riquezas do Ceará, da TV CIDADE. Na ocasião fui escalado para falar sobre a história da cidade e Mororó foi alvo de nossas conversas (eu e a reporter). Daquel dia em diante eu passei a refletir sobre o personagem e sua história em Groaíras. Mesmo ele não tendo autuação política ou religiosa aqui, foi no Riacho do Guimarães (Groaíras), nome em referência ao seu trisavô, Lourenço Guimarães de Azevedo, um dos primeiros habitantes dessas paradas, o seu local de nascimento e onde passou os primeiros anos de sua vida. Desenvolveu seus estudos na Caiçara (Sobral), especialmente na cadeira de latim e, posteriormente, foi um dos alunos fundadores do Seminário de Olinda. Minha reflexão passou a incomodar-me, pois não podemos relegar o berço e a importância desse personagem na formação da identidade do groairense, afinal de contas, é impossível nascer nessa cidade sem ao menos ter ouvido falar de Mororó, seja o nome que batiza a rua ou seja o feriado do dia 30 de abril, quando todas as repartições públicas estão fechadas. Monsenhor Cleano, professor-cidadão, filho de Ipueiras e um dos pais de Groaíras, pois atuou ativamente no processo de emancipação e instalação do Município de Groaíras em 1957, foi um grande incentivador do resgate e respeito da memória de Mororó, inclusive na denominação do Colégio da CENEC. Quem não lembra do Colégio Pe. Mororó que funcionou por diversos anos até a década de 90 no salão Paroquial? Pois é, aquele foi um espaço por excelência de formação do cidadão groairense na forma forma de vestir, comportar-se, comunicar-se, etc. O "cidadão groairense" foi "moldado" embebido nas idéias incutidas naquele colégio sob a direção do saudoso Monsenhor Cleano Tavares Moereira. Mororó fazia parte do "cardápio". O resgate de sua história foi tão importante que até hoje ele, mesmo em silêncio e em nosso silêncio e processo acelerado de desmemorização, continua encravado documentando a cidade, seja na data ofical municipal, seja no nome dos logradouros, etc. Lamentavelmente estamos curtindo só mais um feriado, ausência de trabalho e lógica de comemoração. Se não há o que comemorar, qual o motivo do feriado? Nessa perspectiva seria este um prejuízo para a cidade ante o fato das repartições públicas estarem fechadas, inclusive as escolas. Quando em vida o Monsenhor Cleano elaborava toda uma programação envolvendo os alunos do colégio, a Igreja e os Poderes Públicos. Infelizmente o Monsenhor em 1999 e, junto com ele, foram enterrados os elementos lógicos da formação da identidade groairense. Foram por que nós não estamos preocupados com esse resgate. Se não fizermos isso, resgatar a história local, a diversidade de formas de contar essa história, perdereemos os marcos de nossa formação na velocidade do tempo. Este é implacável e nos leva os velhos, suas histórias e memórias, enquanto nós ficamos aqui "curtindo" o feriado que, não sei por qual motivo, é "comemorado" no dia 30 de abril. Ele nasceu em julho, como citado acima, e foi arcabuzado na Praça dos Mártires, em Fortaleza, em 25 de abril de 1825. Não se trata de resgatar a imagem do "herói da Confederação do Equador", o fundador do jornalismo cearense, mas resgatarmos os pilares de construção da identidade groairense, do nascimento da cidade.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa. PADRE MORORÓ - A REVOLUÇÃO DA IMPRENSA. Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, 2004.